quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Nelson Rodrigues: para um Hipólito e uma Fedra modernos (2)


Diante dos nossos olhos, numa casa, Herculano ouve a gravação de Geni. 


Era uma vez um viúvo que se apaixonou por Geni. O viúvo tinha um filho chamado Serginho que não queria que ele se apaixonasse de novo. Herculano, o viúvo, caiu na tentação. Geni era puta. Herculano fez com que ela não o fosse mais; trouxe-a para casa, fê-la sua esposa, deixou de ser virgem. Serginho, que honrava a memória da falecida mãe, foi preso num desagradável incidente: a notícia espalhou-se com o burburinho das línguas: o menino havia sido violado na cela por um ladrão boliviano. Quando Serginho voltou para casa, Geni apaixonou-se por ele e Serginho amou Geni como soube. Herculano não sabia. Certo dia, Serginho decidiu viajar. Geni chorou. Serginho partiu. Geni chorou. Serginho foi ver a Europa com o seu amor boliviano. Geni matou-se, bateu a bota, desceu ao Hades, subiu aos deuses. 

À nossa frente, numa casa, Herculano ouve a gravação da esposa morta e ao lado alguém grita Hipólito!; é Eurípides que aí vem, ou confunde-nos a luz?

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