Eurydice perdida que no cheiro
E nas vozes do mar procura Orpheu: 
Ausência que povoa terra e céu 
E cobre de silêncio o mundo inteiro. 
Assim bebi manhãs de nevoeiro 
E deixei de estar viva e de ser eu 
Em procura de um rosto que era o meu 
O meu rosto secreto e verdadeiro. 
Porém nem nas marés, nem na miragem 
Eu te encontrei. Erguia-se somente 
O rosto liso e puro da paisagem. 
E devagar tornei-me transparente 
Como morte nascida à tua imagem 
E no mundo perdida esterilmente. 
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner.
"Soneto de Eurydice"
in Tempo Dividido, Guimarães Editores, 1954.
 
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