quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Cheguei e trago Sophia nos olhos



Eurydice perdida que no cheiro
E nas vozes do mar procura Orpheu:
Ausência que povoa terra e céu
E cobre de silêncio o mundo inteiro.
Assim bebi manhãs de nevoeiro
E deixei de estar viva e de ser eu
Em procura de um rosto que era o meu
O meu rosto secreto e verdadeiro.
Porém nem nas marés, nem na miragem
Eu te encontrei. Erguia-se somente
O rosto liso e puro da paisagem.
E devagar tornei-me transparente
Como morte nascida à tua imagem
E no mundo perdida esterilmente.



ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner.
"Soneto de Eurydice"
in Tempo Dividido, Guimarães Editores, 1954.

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