quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Diógenes de Sínope: o cínico




pormenor d'A escola de Atenas, de Rafael


Descia Mercatore umas pequenas escadas quando deparou com o filósofo, pobremente vestido, sentado no chão, contra a parede, a comer lentilhas.
Arrogante, mais do que era seu costume, cheio de vaidade pela riqueza que ostentava, e pelo estômago farto, disse, para Diógenes:
- Se tivesses aprendido a bajular o rei, não precisavas de comer lentilhas.
E riu-se depois, troçando da pobreza evidenciada por Diógenes. O filósofo, no entanto, olhou-o ainda com mais arrogância e altivez. Já tivera à sua frente Alexandre, o Grande, quem era este, agora?
Um simples homem rico?
Diógenes respondeu. À letra:
- E tu - disse o filósofo - se tivesses aprendido a comer lentilhas, não precisavas de bajular o rei.


TAVARES, Gonçalo M.
"A história de Listo Mercatore"
in Histórias falsas, Campo das Letras, 2005.
 

4 comentários:

Luís C. disse...

Bom dia, P.!

Explica-me porque é que é "cínico".

Um beijo, querida.
Luís

PL disse...

Boa noite, Luís!

A palavra "cínico" provém da palavra grega "kunós", que significa "cão". Ora (etimologicamente) o cínico é aquele que, como um cão, não respeita qualquer tipo de convenção social e opta por viver com o mínimo de objectos/riquezas materiais. Diógenes é, ainda hoje, o principal representante da corrente filosófica, o cinismo.

A significação que a palavra adquire ao longo dos tempos já é outra história.

Diógenes vivia nas ruas, não primava pelas vestes e ficou sobretudo conhecido pelo seu célebre encontro com Alexandre - o Grande. Conta Píndaro que Alexandre, ao parar os seus guardas, se dirigiu até Diógenes - que, como sempre, estava sentado no chão - e lhe disse (algo como):

- Tens à tua frente Alexandre - o Grande; o que lhe tens a dizer?

E Diógenes, que nunca se deixava intimidar por ninguém, respondeu:

- Se não se importar, desvie-se um pouco. Está a tapar-me o sol.

Luís C. disse...

Ah, assim já faz sentido!
Realmente, ao ler "cínico", não percebi.

Obrigado pelo esclarecimento :)

(Tenho de pensar em criar um perfil no blogger, mas não vou fazê-lo na vêspera de natal, não...)

Anónimo disse...

PL, permita-me adicionar uma pequena informação ao seu relato... após o episódio que referiu, Alexandre afastou-se e, aos seus companheiros, disse algo como "Se eu não fosse Alexandre, seria Diogenes".

Não me recordo da fonte de cor, mas é uma adição de especial importância, porque permite constatar a admiração que o próprio Alexandre Magno tinha por esse filósofo.