Um arauto chegou a correr: era Idaos, o mensageiro veloz. E pela Ásia inteira proclamou a glória imperecível: "A partir da Tebas sagrada e da fértil Pláquia, Heitor e os seus companheiros transportam, nos seus navios que galgam o mar, a esbelta Andrómaca de olhos cintilantes e com ela muitas jóias de ouro, tecidos de púrpura, objectos trabalhados e muitas taças de prata e de marfim".
Ao ouvir estas palavras, o estimado pai de Heitor levantou-se de pronto e a notícia espalhou-se pela grande cidade entre os seus amigos. E logo os troianos atrelaram as mulas às suas rápidas galeras, montaram nelas uma multidão de mulheres e de jovens com delicados tornozelos, à excepção das jovens de Príamo, e os rapazes atrelaram os cavalos nos seus carros. Era uma coisa grandiosa...
Todos juntos, escoltaram até Tróia os esposos como se eles fossem deuses. A música da flauta juntava-se ao som das castanholas. Com a sua voz pura, as jovens cantavam uma melodia sagrada que um eco divino fazia repercutir para o céu. Por toda a parte, nas ruas, vasos e taças misturavam a mirra, a canela, o incenso. As mulheres mais velhas soltavam gritos de alegria, enquanto os homens entoavam em voz alta um belo hino a Apolo, o arqueiro da lira. Todos celebravam Heitor e Andrómaca como se fossem deuses.
Safo, O Desejo. (Tradução de Serafim Ferreira).
Lisboa, Teorema, 2003.
1 comentário:
Olá, Joana.
Fico muito feliz por te teres juntado a nós.
Este fragmento de Safo transporta-me sempre até Homero, até à Ilíada, em que podemos ler e reler aquela tão bela descrição dos amores entre Heitor e Andrómaca. Também em Safo, este é o amor perfeito, o mais equilibrado.
Muito obrigada.
E sê muito bem-vinda ao jardim.
Patrícia
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