segunda-feira, 2 de maio de 2011

Médée, de Max Rouquette




MÉDÉE
de MAX ROUQUETTE

encenação
JEAN-LOUIS MARTINELLI


local
ARCOS DE MIRAGAIA


data
20-22 MAIO 2011


Uma Medeia matricial, a de Eurípides, revista (mas não "actualizada") por um autor francês contemporâneo (Max Rouquette, 1908-2005) ganha uma inesperada vida no continente africano. Inesperada? Quando Jean-Louis Martinelli desembarcou no Burquina Faso em 2002 para trabalhar este texto com uma trupe local, levava consigo na cabeça uma intuição de Heiner Müller: os povos africanos são hoje os únicos que podem tocar de perto a essência do trágico. No terreno, Martinelli descobriu o porquê desta proximidade entre a Grécia antiga e a África contemporânea: a violência e a guerra, o nascimento balbuciante da democracia e a omnipresença do sagrado na vida quotidiana. Mas Médée não é uma tese académica sobre a resiliência de mitos fundadores ocidentais em latitudes exóticas. Ao situá-la num espaço concentracionário, que evoca os campos de refugiados em Melilla ou Lampedusa, onde milhares de africanos desesperam por um visto europeu, Martinelli encena uma tragédia sobre o sentimento de pertença e o exílio. É nesta paisagem desoladora que ecoam as imprecações desta feiticeira sedenta de vingança, que vai até ao impensável para punir a traição de Jasão. Odile Sankara encarna esta figura desmesurada. Em Itália, Franco Quadri pensava nela quando escreveu: "A beleza feroz de uma Medeia negra".


(Texto retirado do jornal Odisseia: Teatro do Mundo)

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