sábado, 22 de janeiro de 2011

«E, por isso, é tão comum ler Séneca quando devia estar, quem sabe, a dormir»


Durmo muito pouco. Tu conheces o meu hábito: basta um breve sono para repousar; deixar, por poucos minutos, de estar acordado é o suficiente. Por vezes tenho a consciência de ter dormido, outras apenas suspeito que o fiz. Irrompe subitamente o estrépito do circo; uma vozearia repentina e unânime fere-me os ouvidos, sem perturbar, sem interromper sequer as minhas reflexões. Sou capaz de suportar muito bem o ruído; um grande número de vozes indistintas é para mim como o barulho das ondas, do vento a bater na folhagem ou outros sons de que mal nos apercebemos.

(Livro X. 83)



SÉNECA.
Cartas a Lucílio, Gulbenkian, 1991.
 (Trad.: J. A. Segurado e Campos)

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