quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A transformação e Circe: João de Deus e a Joaninha dos olhos verdes



E do Sol incansável, Perseida, a ilustre Oceânide,
gerou Circe

Hesíodo, Theog., 956-957



Cena do filme A Comédia de Deus, de João César Monteiro


Um mover d’olhos, brando e piadoso,
sem ver de quê; um riso brando e honesto,
quási forçado; um doce e humilde gesto,
de qualquer alegria duvidoso;

um despejo quieto e vergonhoso;
um repouso gravíssimo e modesto;
uma pura bondade, manifesto
indício da alma, limpo e gracioso;

um encolhido ousar; uma brandura;
um medo sem ter culpa; um ar sereno;
um longo e obediente sofrimento;

esta foi a celeste fermosura
da minha Circe, e o mágico veneno
que pôde transformar meu pensamento.



CAMÕES, Luís de.
"Um mover d’olhos, brando e piadoso"
in Poesia Lírica, Ulisseia, 2002.

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