Há anos esbocei um conto - andarão por aí notas e rascunhos - no qual, até ter acabado de viver, os amigos não reconheciam ao protagonista o rosto que lhe correspondia: a sua petrificada expressão final resultava ser o retrato mais fiel que jamais lhe tinham feito. Com essa perspectiva vejo agora, como desde o cume do Sinai, que as minhas últimas peregrinações à origem - Tânger, Lugano, La Habana - não eram cumprir nem acabar a vida, mas um regresso à terra. Como Anteu queria eu, assim, cobrar forças para a tarefa final, tão obscura e exigente em humildade e paciência. Não por acaso, na fase monumental em que em Aranjuez adorna a entrada do Parterre Real, vê-se na base da luta entre Hércules e Anteu a lôbrega porta para o mais além e, guardando-a, o cão Cérbero.
SAMPEDRO, José Luis, Monte Sinai.
Lisboa: Editorial Teorema, 1995. P. 119.
Lisboa: Editorial Teorema, 1995. P. 119.
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