segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Abro frequentemente a Ilíada para ficar a remoer um verso ou dois


ἆ δείλ᾽, ἦ δὴ πολλὰ κάκ᾽ ἄνσχεο σὸν κατὰ θυμόν.
πῶς ἔτλης ἐπὶ νῆας Ἀχαιῶν ἐλθέμεν οἶος
ἀνδρὸς ἐς ὀφθαλμοὺς ὅς τοι πολέας τε καὶ ἐσθλοὺς
υἱέας ἐξενάριξα; σιδήρειόν νύ τοι ἦτορ.
ἀλλ᾽ ἄγε δὴ κατ᾽ ἄρ᾽ ἕζευ ἐπὶ θρόνου, ἄλγεα δ᾽ ἔμπης
ἐν θυμῶι κατακεῖσθαι ἐάσομεν ἀχνύμενοί περ·
οὐ γάρ τις πρῆξις πέλεται κρυεροῖο γόοιο·
ὡς γὰρ ἐπεκλώσαντο θεοὶ δειλοῖσι βροτοῖσι
ζώειν ἀχνυμένοις· αὐτοὶ δέ τ᾽ ἀκηδέες εἰσί.


"Ah, desgraçado, muitos males aguentaste no teu coração!
Como ousaste vir sozinho até às naus dos Aqueus,
para te pores diante dos olhos do homem que tantos
e valorosos filhos te matou? O teu coração é de ferro.
Mas agora senta-te num trono; nossas tristezas deixaremos
que jazam tranquilas no coração, por muito que soframos.
Pois não há proveito a tirar do frígido lamento.
Foi isto que fiaram os deuses para os pobres mortais:
que vivessem do sofrimento. Mas eles próprios vivem sem cuidados.

(XXIV. 518-526)





HOMERO.
Ilíada, Cotovia, 2007.
(Trad.: Frederico Lourenço)

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