segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Quatro excertos para o sacrifício de Policena


Pio Fedi, Il Ratto di Polissena



HÉCUBA
E o que se passa com a filha mais nova que me arrebataste? Onde está ela?
TALTÍBIO
Falas de Policena, ou é por outra que perguntas?
HÉCUBA
É por essa. A quem a amarrou a tiragem à sorte?
TALTÍBIO
Foi-lhe destinada servir o túmulo de Aquiles.
HÉCUBA
Desgraçada de mim! Dei à luz a servidora de um sepulcro!
Mas diz-me lá que costume ou lei dos Helenos foi esse, ó amigo.
TALTÍBIO
Felicita a tua filha. É feliz o estado em que se encontra.
HÉCUBA
Que palavras são as tuas? Será que a minha filha contempla a luz do Sol?
TALTÍBIO
Está nas mãos do seu destino; por isso está livre de penas.

(vv. 260-271)

 

EURÍPIDES.
As Troianas, Edições 70, 1996.
(Trad.: Maria Helena da Rocha Pereira)



Junto à costa da Trácia, o Atrida havia fundado a frota,
até o mar ficar mais calmo e o vento mais favorável.
Aqui, eis que de súbito, tão colossal como fora em vida,
sai Aquiles de uma enorme fenda que no solo se abrira,
de olhar ameaçador, com a mesma expressão daquele dia
em que, feroz, atacara injustamente Agamémnon com ferro.
'Partis então esquecidos de mim, ó Aqueus', vociferou,
'e a gratidão pela minha bravura fica enterrada comigo?
Livrai-vos! Para meu túmulo não ficar sem honras fúnebres,
imolai Políxena e aplacai deste modo o fantasma de Aquiles.'

(XIII. 439-448)

OVÍDIO.
Metamorfoses, Cotovia, 2007.
(Trad.: Paulo Farmhouse Alberto)

Traída en sacríficio Policena
al sepulcro de Aquiles, ya que vido
de Pirro el cruel brazo erguido
por la ferir, bolvió toda serena,

Diziendo, descanzada: - A quanta pena
pornás fin luego, ó golpe bien venido,
dexando el cuerpo frío aqui tendido
cabe Troya! - su nombre sólo apena.

Y luego la real cara, animosa
bolviendo a todos, más clara qu'el dia,
aun d'ese cuerpo después recelosa:

- Trocadme a lloros de la madre mía
(les dixo), que ya no le queda otra cosa,
y qu'a oro nos remió quando podía!



MIRANDA, Sá de.
"À morte de Policena"

in Obras completas - vol. I, ed.: Rodrigues Lapa, Sá da Costa, 2002.


Qual contra a linda moça Policena,
Consolação extrema da mãe velha,
Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co'o ferro duro Pirro se aparelha;
Mas ela, os olhos com que o ar serena
(Bem como paciente e mansa ovelha)
Na mísera mãe postos, que endoidece,
Ao duro sacrifício se oferece:

Tais contra Inês os brutos matadores,
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que depois a fez Rainha,
As espadas banhando, e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, férvidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.

(III. 131 & 132)

CAMÕES, Luís de.
Os Lusíadas, Ulisseia, 2002.

Sem comentários: