pormenor de um vaso ateniense (475-425 d.C): Ulisses, Elpenor e Hermes
Faz frio, a lua ilumina-lhes, esta lua sob a qual dá para ver até as formigas andando na terra nua, ao chegar-se levantam os braços em sinal de submissão:
- Somos nós, gente boa, Elpenor...
- Nós, Palinuro, gente boa.
As armas não mexem, prontas para atirar, o cão ladra desesperadamente. Sombras imensas que se desparramam pelo chão comburido. Desapeiam quase a cair dos cavalos. Cavalos que vêm andados e mais que andados, desandados, sedentos, mortos de fome e de cansaço. Levantam os braços:
- Somos nós, Elpenor e Palinuro, que vamos para os garimpos...
- Que garimpos? - pergunta o Cavaleiro.
- Não sei, estamos fugidos, a cidade está cercada, toda cercada, em redor dela polícia como formiga cercando tudo, ninguém pode entrar nem sair, quase que fomos presos, quem são vocês, que bem pergunta?
- Somos quem somos, aqui ninguém pode saber quem somos, nem os de dentro nem os de fora, somos quem somos e basta. Circo e Carnaval eternamente e é tudo.
[...]
Levanta-se, guarda a arma na cintura, bebe um pouco de água, depois algo do café que sobrou dos restos dos restos, acende um cigarro, os homens andam pelos campos a fazer necessidade, bebem também água, guardam coisas, aprestam-se, levam o cão para seu lugar entre os animais da arca de Noé do trailer, enchem o tanque dum tambor que trazem com eles, vão guardando e, quando já estão prontos para a partida, alguém grita:
- Há alguém morto aqui...
Descem do carro, o morto é um fantasiado e mascarado de Morcego, não o reconhecem imediatamente, alguém vestido de A Serpente fala:
- É meu companheiro de ontem, Elpenor...
- E quem o matou?
- Não sei...
[...]
[...]
- Para onde vamos, senhores?
- Vamos voltar, pegue a estrada para Vila Bela - diz o Cavaleiro. Palinuro me contou que conhece lá um piloto de avião que pode nos levar para o exterior e daí para a Europa. Paraguai, Bolívia ou Peru. Mas está na hora de descansar. Escolha um lugar bom, à beira da estrada. Vamos parar para comer e dormir.
DICKE, Ricardo Guilherme.
"Toada do esquecido"
"Toada do esquecido"
in Toada do Esquecido & Sinfonia Equestre, Cathedral, 2006.
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