desenho do busto de Cícero
7. 3. Embora apropriada à sua condição e suficiente para os gastos, a sua fortuna era pequena e, por isso, causava admiração que ele não aceitasse honorários nem presentes pelos serviços de advogado, sobretudo quando se encarregou do processo contra Verres. 4. Este fora pretor na Sicília e cometera muitos crimes contra os Sicilianos que o denunciaram. Cícero conseguiu a sua condenação não com discursos, mas, de certa maneira, sem falar. 5. Os pretores favoráveis a Verres, à custa de adiamentos e atrasos, arrastaram o processo até à data limite, pois era evidente que um dia não seria suficiente para os discursos e o julgamento não chegaria ao fim. Então Cícero levantou-se e declarou que não precisava de discursar; em vez disso, mandou vir as testemunhas, interrogou-as e pediu aos juízes que procedessem à votação. 6. A propósito deste processo recordam-se ainda muitos gracejos que ele terá dito. Um ocorreu quando um liberto, de nome Cecílio, convertido ao judaísmo, queria acusar Verres sozinho, afastando os Sicilianos. Ora, como os Romanos chamam verres ao porco por castrar, Cícero perguntou: “Que tem um judeu a ver com um porco?" 7. Também quando Verres, cujo filho, ainda jovem, tinha fama de se oferecer de uma maneira imprópria de um homem livre, invectivava Cícero, chamando-lhe devasso, este respondeu-lhe: “É aos teus filhos, dentro de portas, que deves esse insulto.” 8. Quando o orador Hortênsio, que não quisera defender Verres abertamente, mas aceitara apoiá-lo no momento da fixação da multa, recebeu como pagamento uma esfinge de marfim, Cícero disse-lhe qualquer coisa de forma ambígua. Hortênsio, então, respondeu-lhe que não sabia resolver enigmas. Ao que Cícero replicou: “E, no entanto, tens a esfinge dentro de casa!”
PLUTARCO.
Vidas paralelas - Demóstenes e Cícero, CECH, 2010.
(Trad.: Marta Várzeas)
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