domingo, 26 de dezembro de 2010

Daniel e os gregos (5)


No meio do caminho da nossa vida
No meio do poema, havia
Uma pedra onde reclinar a cabeça.

A mulher andava no meio das estradas
Por sobre o mundo tecendo e destecendo
Duas asas que o pai soldava para o filho.
No meio do filho estava o labirinto

E o touro de Ariadne puxado por um fio
Lavrando
No coração de Teseu tão manso
No meio da idade aonde existe
O primeiro sinal do solestício.




FARIA, DANIEL.
"Labirinto III"
in Poesia, ed.: Vera Vouga, Quasi, 2006.




Quando saímos de Casa e entramos no Labirinto, porém, a geometria afectiva desta topofilia sofre uma alteração inevitável: é que no Labirinto, casa do Minotauro, o espaço vivencial equivale ao espaço geométrico e este ao espaço poético, isto é, a corografia não existe sem a geometria que a sustenta e esta, por sua vez, não existe sem a escrita que a representa. [...] Eis o essencial do problema: é que no labirinto de Creta que Dédalo construiu, perfeito na sua geometria concêntrica, encontrar o centro é fácil; impossível será sair, escapar ao poder do centro.



FRIAS, Joana Matos.
"No meio do labirinto havia três pedras: Daniel, Dante, Drummond"
in E agora sei que oiço as coisas devagar, Sombra pela cintura, 2009.
(org.: Francisco Topa e Marco de Oliveira Marques)




O próprio poeta o dá a entender no poema "Labirinto III", que vai beber, justamente, aos mitos de Ícaro, Dédalo e outros relacionados com o labirinto de Creta, morada de Ariadne e do Minotauro, no que é também uma clara alusão ao famoso poema de Carlos Drummondd de Andrade: "No meio do caminho da nossa vida/ No meio do poema, havia / Uma pedra onde reclinar a cabeça." Nesse incontornável poema Daniel Faria inscreve a pedra a nível poético e metapoético, e faz dela um mistério com que se depara no seu pathos pessoal, mas também mistério e desafio colocado ao leitor [...] Também o leitor deve procurar levantar a pedra no meio do caminho da poesia de Daniel Faria para (a) compreender, até porque a nenhum leitor passará despercebida a quantidade de vezes que a palavra "pedra", no singular ou no plural, comparece nesta poesia.



LAGE, Rui.
"O voo da pedra: explicação de Ícaro em Daniel Faria"
in E agora sei que oiço as coisas devagar, Sombra pela cintura, 2009.
(org.: Francisco Topa e Marco de Oliveira Marques)

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